domingo, julho 15, 2007

PASTORAL

Não há, não,
duas folhas iguais em toda a criação.

Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há de certeza, duas folhas iguais.

Limbo, todas têm,
que é próprio das folhas;
pecíolo algumas;
baínha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas.

Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.

Nas formas presentes,
nos actos distantes,
mesmo semelhantes
são sempre diferentes.

Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelo nas ondas que fazem;
outras vão e jazem
sem mais movimento.
Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.

É dessas que eu sou.

António Gedeão

14 Comments:

Blogger sonhadora said...

Desejo-te um bom domingo e deixo-te beijinhos embrulhados em abraços.

6:37 da tarde  
Blogger poeta_silente said...

"Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.

É dessas que eu sou."

Pois eu não me encaixo em nenhuma destas, creio, querido amigo. Pq?
Porque eu já caí, mas levantei... Já gritei e silenciei. Já voei nas dobras do vento, e aterrisei na praia terna do calor do sol.
Hoje eu navego pelo tempo presente, oferecendo o rosto para receber a brisa, mas - caso esta deixe de ser uma brisa e se torne uma tormenta - eu me abrigo nos braços de Deus. Sempre pensando que Seus braços estarão presentes, caso eu tome a iniciativa de procurar um abrigo, aceitando que Suas mãos me guiem para o recanto seguro.
Abrigos existem muitos - poucos são os que nos resguardam. Palavras? Muitas são ditas... mas poucas tem o valor intrínsico que pode ser percebido como algo de conteúdo.
Silêncios? Minha nossa! Somos mais silenciosos quando devemos falar do que falamos quando devemos silenciar. Deixar-nos levar pelo vento? Pois! É o que mais vemos hoje em dia. Não existe força para lutar contra o trivial, contra as tempestades que nos assolam à cada dia... não existe idoneidade para dizermos que "somos", além do que "temos".
Precisamos, então, fazer a diferença... E esta diferença está dentro de nós. Em não nos deixar levar... mas irmos, com segurança, sabendo que estamos percorrendo o caminho que nos é salutar. Percorrendo o caminho que nos dará a felicidade. Que existe, sim. Ela está dentro de nós. Basta permitir-nos encontrá-la.
Beijos
Deus te abençoe
Miriam

6:59 da tarde  
Blogger cieloazzul said...

besos, besos siempre...

7:26 da tarde  
Blogger Azul said...

Que decir quien solo comparte belleza en palabras Manu? GRACIAS por cosas tan hermosas que alegran los momentos.

Bikos mil!

2:16 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Nada na natureza é realmente igual. Mesmo que idênticos, em algum ponto divergem. Amei sua poesia.
Boa semana!
Bjs

5:22 da manhã  
Blogger Alice Matos said...

Adoro ler António Gedeão...
Tão concreto e simultaneamente tão poético... Difícil a sua arte...
Parabéns pela escolha...

11:23 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Que lindo, realmente a cada novo passeio que faço, tantos abraços e coisas maravilhosas como esta. Adorei a sua casa.
Acho que já passei quase todas as fases de uma folha então. Hoje, estou naquela que não diz nada. Só a espera dos grandes propósitos da mãe natureza. Mas, sabe...eu queria mesmo ser folha neste momento, para não pensar.

Beijos e foi maravilhosa esta visita. Uma linda semana.

Da amiga Josse

12:11 da tarde  
Blogger Grey Moon Wolf said...

sem comentários possíveis às palavras de António Gideão.

Boa escolha.

1:10 da tarde  
Blogger Fúria das Águas said...

Cada um de nós tem um traço só nosso, que encanta e desencanta.
Um beijo querido manuel.
Furia

5:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ola Manuel, tudo bem ?
Uma otima semna a você.
Tudo de bom.
Beijossss
Célia

1:37 da manhã  
Blogger Páginas Soltas said...

Oh Manuel,
Não foste buscar o que tinha para ti!

Pronto... Respeito!

Amanhã volto para ler ete poema.. hoje não me consigo concentrar!m :(

Beijos da

Maria

2:21 da manhã  
Blogger . said...

oi! que lindo conocerte, que lindo encontrar este blog! desde buenos aires argentina te envío un abrazo, perdona no se escribir en portugués, pero empecé a conocer el idioma y amarlo desde que me enamoré a distancia( sssshhhhh, es un secreto)de alguien que ama vuestro idioma...voy a regalarte este poema que puse en mi blog, y también se lo regalé a el, no se si comprendió que iba directo a su corazón...en fin, el amor es asi, ojalá te guste el poema...
GARRAS DOS SENTIDOS (A.Bessa-Luís)
Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos,
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.

São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas,
não quero cantar amores.

Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.

São demências dos olhares,
Alegre festa de pranto,
São furor obediente,
São frios raios solares.

Dá má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.

Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos.

un abrazo para ti...

4:27 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

António Gedeão!!
Quem nesse tempo tiver lido :" O átomo" e outros livros de Rómulo de Carvalho, pois :)
Na época em que leccionava nem os seus alunos sonhariam que por entre fórmulas, o seu professor de bata branca... noutros rabiscos, feitos em poesia, era António Gedeão!!
Como folha, sim...
Homem sereno, forte,discreto, simples...
entre o real da vida e o sonho do Poeta.
Continue a brindar-nos com folhas de palavras,"nas dobras do vento".

Um abraço

12:39 da manhã  
Blogger Sara MM said...

adorei!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

diz-me muito mesmo!

BJss

9:37 da tarde  

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