terça-feira, agosto 28, 2007

MAGNÓLIAS

É a magnólia
Tão delicada,
Que se nas folhas
__ Louco desejo ! __
Lhe dás um beijo
Fica manchada.

Não; não te beijo
Minha alegria
Porque ao beijar-te,
Doido, fremente,
Seguramente
Te mancharia !

Fernandes Costa

sábado, agosto 25, 2007

MUSICA __ MAGIA ETERNA !

Vem __ oh ! música divina __vem buscar meu coração
E deixa que ele sonhe em teus braços de magia ...
Vem.. eu tenho sede de ti,
Tenho sede de ti e de Poesia,
E quero sonhar um sonho que é talvez evocação
Doutros mundos em que jamais vivi ...

... E tu vieste __ oh ! música... e tu quiseste vir
Embalar os meus sonhos, docemente ...
__ Kattelbey faz-se ouvir ...
E nos meus sonhos há paisagens do oriente
__ Paisagens faiscantes como o sol da manhã,
Lindas como pinturas em biombos de charão.
__ Agora é Chopin ...
E eu vejo lagos adormecidos ao luar
Em noites de Verão ...
E vejo ninfas pelos bosques a bailar
Como farrapos quiméricos duma alma !...
__ Tudo me fala d'amor ...
E Schubert eu quero ouvir agora em doce calma.
__ Eis a Sinfonia Incompleta !
__ Foi ele __ o seu compositor __
Que a quis deixar assim
Como prova aliciante de um amor
Que nunca mais tem fim,
__ Com os Sonhos dum Poeta !
__ E a música continua numa cadência febril ...
São valsas de Strauss, agora.
E eu vejo rosas frescas em manhãs de Abril,
Beijadas pela brisa que as namora;
Vejo pombas brancas pelo azul voar
E oiro cintilando pelo firmamento.
__ Strauss... Waldteufel.. Lehar...
Valsas eternas... eterno estonteamento...
__ Música ! __eterna sedução...
__ ...eterna feiticeira
__ Não me despertes, não!
__ E deixa-me sonhar a vida inteira!...

M. Odília de Campos Anacleto Battel

sábado, agosto 18, 2007

MUSICA

Se me perguntam porquê
Não sei.

Alguém
Dita os meus poemas
E eu sou apenas
O primeiro ouvinte.

A música vem
E invade
Todo o meu ser
Em cadências.

Deus toca a alma das coisas
Com dedos feitos de vento
Passando as cordas
Da harpa
Num lamento
Num grito
Numa canção de triunfo
Em sinfonias a ser
(Eu registo as vibrações
Como um fio magnetizado
Todo alheado de mim).

Senhor,
Descobrir, enfim
A razão-mãe
De existir :
Vivo nos nervos do ar
Para Te ouvir
E contar.

Pimentel Bastos

quinta-feira, agosto 16, 2007

MUSICA

MUSICA
A um Pai - Saudade eterna

A Música nasceu na voz do vento,
no ribombar longínquo do trovão,
no ciciar da folha à viração,
no marulhar da onda em movimento.

A Música cresceu no sentimento
do trovador tangendo uma canção,
da lira dedilhando uma ilusão
ou gemendo de amor doce lamento.

A Música viveu nos régios coros
das catedrais em cânticos sonoros,
nas épicas fanfarras marciais...

Ressonância, harmonia, a voz do mundo
será Música sempre, eco profundo
de vida ou morte, gargalhada ou ais!

Maria Antonieta Faustino Fernandes
Correio do Ribatejo 6/10/2000 pag, 3

domingo, agosto 12, 2007

O VENTO, O INQUIETO, ERGUEU-SE

O vento, o inquieto, ergueu-se.
Acordou no seu fojo
E veio ver a noite luarenta...
Veio vê-la, e perdeu-se.
Na branca solidão de orvalho e tojo,
Pediu-lhe o coração fúria e tormenta.

Como quem chama por alguém, primeiro,
Como quem berra com alguém, depois,
A voz foi-lhe engrossando pouco a pouco...
Foi de carícia branda a afago inteiro...
De um só degrau foi devorando dois,
Na pressa de quem sobe cego e mouco.

À lua arrepelava-lhe os cabelos;
À terra distendia-lhe a matriz;
Graníticos e míticos castelos
Caíam como frutos amarelos
Roídos na ilusão e na raiz.

Frágeis papoilas dos outeiros,
Torres de santidade,
Tudo o possante abraço derrubou.
Lábios de fogo, sensuais, ligeiros,
Queimavam num segundo a virgindade
Que o sonho põe nas coisas que gerou.

Lágrimas frias pelo chão despido;
Ossos sem carne a reluzir na areia;
Assim a dor no mundo protestava!
Assim se acobardavam num gemido
O vinho do jantar e o pão da ceia,
Enquanto o vento, como um rei, passava!

Porque passava o vento!
Em lufadas de força e movimento,
Era um rapaz alegre a assobiar!
Era desprezo fresco e violento
A brincar com punhais sem se picar!

Ruíam troncos de há quinhentos anos!
Tremiam fragas como flores num prado!
Baliam lobos como ovelhas mansas!
E o vento, surdo como os desenganos,
Desenhava com passos desumanos
A beleza mortal das suas danças.

E zunia!
Sem rei nem roque, universal, corria
Com a vida gelada nos seus braços!
E varria,
Numa alada alegria,
A poeira da terra e dos espaços!

Miguel Torga
nasceu 12/08/1907 fal. 17/01/1995

sexta-feira, agosto 10, 2007

O CATA-VENTO


Repetindo a rodagem rotineira
ao impulso metálico do leme,
erguida ao céu a imagem sobranceira
e preso à terra, o cata-vento geme.

De sol a sol, girando a vida inteira,
a rígida estrutura range e ferme,
e asa cantando ao vento se aligeira
por sufocar a aspiração estreme.

Importa obedecer ao fatalismo...
_De que vale sonhar com a imensidade
se lhe rouba o destino, a liberdade?

Todo o homem vive o mesmo dualismo:
a alma a buscar a luz que o céu descerra
e preso o corpo às ilusões da terra.

Jercy Pinheiro de Souza

CLAMOR

Dizei-me, ó Príncipe moiro,
Vossas filhas onde estão?

Pedi amor mas nunca pedi oiro,
Pedi rosas mas nunca pedi pão.

E o meu barco já se cansa
De sempre, sempre o esperares!
Diz-me, ó Corsário de França,
Da linha redonda e mansa,
Onde se acabam os mares?

Dos meus olhos já nem sei...
Ai saudades, onde estais?
Dizei-me, ó pajens de El-rei,
(Que dos meus olhos nem sei...)
Se ainda há túmulos reais...

Almocreves das estradas
Que a noite longa acompanha!
Mostrai-me coisas roubadas,
Almocreves das estradas
Que atravessaram a Espanha!

Pedi amor mas nunca pedi oiro,
Pedi rosas mas nunca pedi pão.

Ai! Príncipe, Príncipe moiro,
Vossas filhas onde estão?

Pedro Homem de Melo

domingo, agosto 05, 2007

FORMOSO RIO LIS

Fermoso rio Lis, que entre arvoredos
Ides detendo as águas vagarosas,
Até que umas sobre outras, de invejosas.
Ficam cobrindo o vão destes penedos;

Verdes lapas, que ao pé de altos rochedos
Sois moradas das Ninfas mais fermosas,
Fontes, árvores, ervas, lírios, rosas,
Em quem esconde Amor tantos segredos;

Se vós, livres de humano sentimento,
Em quem não cabe escolha nem vontade,
Também às leis do Amor guardais respeito.

Como se há-de livrar meu pensamento
De render alma, vida e liberdade
Se conhece a razão de estar sujeito?


Rodrigues Lobo
1580-1623

sexta-feira, agosto 03, 2007

LA CIERVA

Doliente cierva, que el herido lado
de ponzoñosa y cruda yerba lleno,
buscas el agua de la fuente pura,
con el cansado aliento que en el seno
bello de la corriente sangre hinchado,
débil y decaída tu hermosura;
¡ay!, que la mano dura
que tu nevado pecho
ha puesto en tal estrecho,
gozosa va con tu desdicha cuando
cierva mortal, viviendo, estás penando
tu desangrado y dulce compañero,
el regalado y blando
pecho pasado del veloz montero.

Vuelve, cuitada, vuelve al valle donde
queda muerto tu amor, en vano dando
términos desdichados a tu suerte.
Morirás en su seno, reclinando
la beldad, que la cruda mano esconde
delante de la nube de la muerte.
Que el paso duro y fuerte,
ya forzoso y terrible,
no puede ser posible
que le excusen los cielos, permitiendo
crudos astros que muera padeciendo
las asechanzas de un montero crudo
que te vino siguiendo
por los desiertos de este campo mudo.

Mas, ¡ay!, que no dilatas la inclemente
muerte, que en tu sangriento pecho llevas,
del crudo amor vencido y maltratado;
tú con el fatigado aliento pruebas
a rendir el espíritu doliente
en la corriente de este valle amado.
Que el ciervo desangrado,
que contigo la vida,
tuvo por bien perdida,
no fue tampoco de tu amor querido
que habiendo tan cruelmente padecido
quisieras vivir sin él, cuando pudieras
librar el pecho herido
de crudas llagas y memorias fieras.

Cuando por la espesura deste prado
como tórtolas solas y queridas,
solos y acompañados anduvisteis;
cuando de verde mirto y de floridas
violetas, tierno acanto y lauro amado,
vuestras frentes bellísimas ceñistes;
cuando las horas tristes,
ausentes y queridos,
con mil mustios bramidos
ensordecisteis la ribera umbrosa
del claro Tajo, rica y venturosa
con vuestro bien, con vuestro mal sentida
cuya muerte penosa
no deja rastro de contenta vida.

Agora el uno, cuerpo muerto lleno
de desdén y de espanto, quien solía
ser ornamento de la selva umbrosa;
tú, quebrantada y mustia, al agonía
de la muerte rendida, el bello seno
agonizando, el alma congojosa;
cuya muerte gloriosa,
en los ojos de aquellos
cuyos despojos bellos
son victorias del crudo amor furioso,
martirio fue de amor, triunfo glorioso
con que corona y premia dos amantes
que del siempre rabioso
trance mortal salieron muy triunfantes.

Canción, fábula un tiempo, y caso agora,
de una cierva doliente, que la dura
flecha del cazador dejó sin vida,
errad por la espesura
del monte que de gloria tan perdida
no hay sino lamentar su desventura.

Francisco de La Torre
1534-1594 ?

quinta-feira, agosto 02, 2007

PINHEIRO

Magestoso e hierático Pinheiro,
Que ergues os braços para o céu, a flux !
E a floresta dominas, altaneiro,
Sedento de ar ! de sol ! de céu !de luz !

Na fímbria do horizonte, sobranceiro,
O teu vulto à lembrança me conduz :
A imagem de um intrépido guerreiro,
Por ti a velar, Terra de Santa Cruz !

Ó sagrada Araucária, que venero !
Imponente atalaia da esperança !
Do Paraná, és o esplendor e a graça !

Simbolizas, no porto esbelto e austero,
E na soberba e atlética pujança,
A nobreza e o valor da nossa Raça !

Lisette Villar de Lucena Tacla