terça-feira, outubro 30, 2007

OLIVENÇA


Fiel ao sangue, nossa irmã germana,
chora Olivença as suas horas más
junto do rio que tornou atrás
quando soou a trompa castelhana.

Ó casa de Entre-Tejo-e-Guadiana,
lembrate dela que entre ferros jaz!
Não a dobrou a guerra nem a paz,
__fiel ao sangue, o sangue a ti irmana!

E todo aquele em quem ainda viva
o ardor da Raça e a voz que nele anseia,
se for p'ra além da raia alguma vez,

é Olivença nossa irmã cativa
lá onde com surpresa a gente alheia
oiça dizer adeus em português!

António Sardinha
1888-1925

http://www.geocities.com/capitolhill/2382/indice.htm

http://portugal-livre.00freehost.com/litigio.htm
http://zolmerxu.cjb.net/olivenca.htm




sábado, outubro 27, 2007

O AMOR É ASSIM ...

«O Amor é sofrimento... é incerteza;
é ciúme do presente e do passado...
Às vezes é saudade ou é tristeza
a torturar um pobre apaixonado...

«O Amor é sempre mau por natureza
pois transforma o feliz em desgaraçado!
E exteriorizado em subtileza
consegue ser o deus sempre adorado...

«O Amor é sempre assim: enganador...
Uma força de cordas de veludo...
Ventura disfarçada numa dor...»

-Isso me dizem e eu também proclamo!
Mas inda que sabendo disso tudo,
cada vez mais, ó meu amor, eu te amo!

Luís Otávio

quarta-feira, outubro 24, 2007

SONETO (Amor um mal)

Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.

Luís de Camões

terça-feira, outubro 23, 2007

O AMOR, SENHOR DA VIDA . . .


Meu Amor ! Meu Amor ! O Tempo em vão
Lutou contra a nossa alma heróica e amante.
Que pôde a sua força de gigante
De encontro ao nosso frágil coração ?!

Oh, nada, nada pôde ! Olha, um vulcão
Durantes largos séculos, durante !
Extinto se afigura. E num instante
Rompe, em línguas de fogo, o seu clarão...

Cortem-se, embora , as hastes da roseira,
Que, se tiver raízes, sobranceira
Há-de florir, chegando a Primavera.

Da essência inconsumptível das estrelas,
Que lei domina o Amor, se as rege a elas
E aos Astros em redor, na imensa esfera ?!

Margarida Suzel Corrêa D'Oliveira

segunda-feira, outubro 22, 2007

DEFINIÇÃO DO AMOR




É um nada Amor que pode tudo,
É um não se entender o avisado,
É um querer ser livre e estar atado,
É um julgar o parvo por sisudo;

É um parar os golpes sem escudo,
É um cuidar que é e estar trocado,
É um viver alegre e enfadado,
É não poder falar e não ser mudo;

É um engano claro e mui escuro,
É um não enxergar e estar vendo,
É um julgar por brando ao mais duro;

É um não querer dizer e estar dizendo,
É um no mor perigo estar seguro,
É, por fim, um não sei quê, que não entendo.

Anónimo

domingo, outubro 21, 2007

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal !
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
quantos filhos em vão rezaram !
Quantas noivas ficaram por casar
para que fosses nosso, ó mar !


Valeu a pena ? Tudo vale a pena
se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

sábado, outubro 20, 2007

A BELEZA DO MAR

Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

Sophia de Mello Breyner Andresen
1919-2004

sexta-feira, outubro 19, 2007

MAR

Mar!
Tinhas un nome que ninguém temia;
Era um campo macio de lavrar
Ou qualquer sugestão que apetecia...

Mar!
Tinhas um choro de quem sofre tanto
Que não pode calar-se, nem gritar,
Nem aumentar nem sufocar o pranto...

Mar!
Fomos então a ti cheios de amor!
E o fingido lameiro, a soluçar,
Afogava o arado e o lavrador!

Mar!
Enganosa sereia rouca e triste!
Foste tu quem nos veio namorar,
E foste tu depois que nos traíste!

Mar!
E quando terá fim o sofrimento!
E quando deixará de nos tentar
O teu encantamento!


Miguel Torga
1907-1995

quinta-feira, outubro 18, 2007

A DANÇA DA ONDA

A onda dança na dança,
Na dança louca do mar,
Cheia de fogo e de esprança
Cresce em si mesma e avança
Pensando em não recuar.

E a onda
Redonda
Que nada detém,
Num bem que a estonteia,
Avança na areia
E vem!

Mas depois, perdida a esprança,
Põe-se a onda a recuar,
Morto o fogo, não avança...
A pobre onda já não dança
A dança louca do mar.

E a onda
Redonda
Triste como um ai,
Num mal que a estonteia,
Recua na areia
E vai!

E mais uma vez
Se torna a formar
A onda
Redonda
Na dança do mar...

E cobre as areias
Que a si se renderam
A renda da espuma
Tecida de bruma
Que os anjos teceram.

E a espuma
De bruma
Entrando na dança
Desvairada e nua,
Avança,
Recua,
Recua
E avança!

Tonto da ronda
Que o envolvia
Na onda
Redonda
Do mar,
O perfume salgado da maresia
No redemoínho da onda
Ficou também a dançar...

E os fortes braços
Da onda
__ Os braços fortes! __
Quebram-se em doidos abraços
De encontro às rochas doridas.
E a onda volta a ser onda,
Que já padeceu mil mortes
E renasceu em mil vidas!

E a onda
Redonda,
Triste como um ai,
Que nada detém,
Recua na areia,
Avança na areia,
E vem...
E vai...
E vai...
E vem!!!

Maria Helena Duarte de Almeida
(Maria Helena)

sábado, outubro 13, 2007

ONDAS DO MAR

Das ondas do mar
gotinhas de cristal
vão salpicando o areal
na forma do verbo amar...
Nas conchas bate bravio
o murmúrio vadio
que junto da gaivota
pescadinha, sardinha, marmota
ensaiam um prelúdio
dançando no lamento do vento
que é paixão em doce solidão...
que pode ser tormenta
que pode ser ilusão...

Mas o próprio mar nas ondas inventa
Todos juntos ser...um só coração :)

Isa Cal

sexta-feira, outubro 12, 2007

ONDAS DO MAR

As ondas do mar,
Salpicando de espuma o areal,
Têm a brancura do sonho,
Que pode ser medonho
E nem sempre real.
Num búzio da praias,
Grita o oceano
Uma melodia de imensidão,
Acorde de vento,
Grasnar de gaivota,
Gemido de solidão.

António Carvalho Martins

quinta-feira, outubro 11, 2007

FELICIDADE

O Sol, o Mar, as estrelas,
o Campo, a Lua, e as flores,
as montanhas e os prados;
nas roseiras, a benzê-las,
mil gorgeios... mil amores,
nos arrulhos misturados;

Um coração de mulher,
a Criança remexida,
dão-me alegria em viver.
Mas vejo, observando a VIDA,
mil razões para a temer...

Fernando Henriques Vaz

segunda-feira, outubro 08, 2007

CACHOEIRAS

Do alto penhasco as águas se descolam,
turbilhonantes, lúbricas, febris,
como alvas tranças que se desenrolam
sobre o dorso de luz dos alcantis.

E, em golfadas de espumas, caracolam,
como empurradas por titãs hostis,
num dilúvio de pérolas que rolam
pelos degraus sinfónicos, de lis.

Mordendo o solo, entre o arvoredo denso,
em tredas noites, a gemer, cansadas,
e a rir, do sol sob o esplendor imenso,

vão-se, através dos séculos austeros,
nesse giro eternal, sempre marcadas
pelo mesmo destino de Ashaverus !

Rita de Lara

sábado, outubro 06, 2007

SONETO DO CATIVO

Se é sem duvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;

o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;

se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;

não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!

David Mourão Ferreira

quinta-feira, outubro 04, 2007

OUTUBRO

Roxa e fulva a paisagem tem a graça
dum desenho moderno, recortado.
O vinhedo espreguiça-se cansado
sobre a terra morena, ardente e baça.

Pelas encostas vai secando a massa
das cepas ruivas, cor de mel coalhado,
e em cada vide arruiva-se um braçado
de cachos tenros que o folhedo enlaça.

É meio-dia. O Sol, lá em cima,
sobre a faina violenta da vindima,
como limalha de metal ao rubro;

E toda a terra: as árvores, as vinhas,
as moças, os trigais, o céu, as pinhas,
tomam a cor do cobre, a cor de Outubro.

Fernanda de Castro

terça-feira, outubro 02, 2007

LA VIOLETA


Flor deliciosa en la memoria mía,
ven mi triste laúd a coronar,
y volverán las trovas de alegría
en sus ecos tal vez a resonar.
Mezcla tu aroma a sus cansadas cuerdas;
yo sobre ti no inclinaré mi sien,
de miedo, pura flor, que entonces pierdas
tu tesoro de olores y tu bien:
Yo, sin embargo, coroné mi frente
con tu gala en las tardes del abril,
yo te buscaba orillas de la fuente,
yo te adoraba tímida y gentil.
Porque eras melancólica y perdida,
y era perdido y lúgubre mi amor;
y en ti miré el emblema de mi vida,
y mi destino, solitaria flor.
Tú allí crecías olorosa y pura
con tus moradas hojas de pesar;
pasaba entre al yerba tu frescura,
de la fuente al confuso murmurar.
Y pasaba mi amor desconocido,
de un arpa oscura el apagado son,
con frívolos cantares confundido
el himno de mi amante corazón.
Yo busqué la hermandad de la desdicha
en tu cáliz de aroma y soledad,
y a tu ventura asemejé mi dicha,
y a tu prisión mi antigua libertad.
¡Cuántas meditaciones han pasado
por mi frente mirando tu arrebol!
¡Cuántas veces mis ojos te han dejado
para volverse al moribundo sol!
¡Qué de consuelos a mi pena diste
con tu clama y dulce lobreguez,
cuando la mente imaginaba triste
el negro porvenir de la vejez!
Yo me decía: “buscaré en las flores
seres que escuchen mi infeliz cantar,
que mitiguen con bálsamo de olores
las ocultas heridas del pesar”.
Y me apartaba, al alumbrar la luna,
de ti, bañada de moribunda luz,
adormecida en tu vistosa cuna,
velada en tu aromático capuz.
Y una esperanza el corazón llevaba
pensando en tu sereno amanecer,
y otra vez en tu cáliz divisaba
perdidas ilusiones de placer.
Heme hoy aquí: ¡cuán otros mis cantares!
¡cuán otro mi pesar, mi porvenir!
Ya no hay flores que escuchen mis pesares,
ni soledad donde poder gemir.
Lo secó todo el soplo de mi aliento,
y naufragué con mi doliente amor:
lejos ya de la paz y del contento,
mírame aquí en el valle del dolor.
Era dulce mi pena y mi tristeza;
tal vez moraba una ilusión detrás:
mas la ilusión voló con su pureza,
mis ojos ¡ay! No la verán jamás!
Hoy vuelvo a ti, cual pobre viajero
vuelve al hogar que de niño le acogió;
pero mis glorias recobrar no espero,
sólo a buscar la huesa vengo yo.
Vengo a buscar mi huesa solitaria
para dormir tranquilo junto a ti,
ya que escuchaste un día mi plegaria,
y un ser hermano en tu corola vi.
Ven mi tumba a adornar, triste viola,
y embalsama su oscura soledad;
sé de su pobre césped la aureola
con tu vaga y poética beldad.
Quizá la pasar la virgen de los valles,
enamorada y rica en juventud,
por la umbrosas y desiertas calles
do yacerá escondido mi ataúd,
irá a cortar la humilde violeta
y l pondrá en su seno con dolor,
y llorando dirá: “¡pobre poeta!
Ya está callada el arpa del amor!”


Don Enrique Gil

segunda-feira, outubro 01, 2007

PALHAÇO

Sou palhaço neste circo
e bem que não sou novo
das crianças sou encanto
e faço rir todo o povo.

Mas por vezes a chorar
pelos desenganos da vida
entro na pista a chorar
e o choro
torna-se cantiga...

À minha volta,
se soubessem o que valho,
qual o meu preço,
choravam do palhaço
e não riam
do que pareço.

Joaquim António Matos Meira