domingo, agosto 31, 2008

A MENTIRA

A mentir nada se aprende
Toda a maldade se vende
Destroi-se assim a verdade
Para conseguir seu fim
Não pode dizer que sim
Pois vive com falsidade

A viver neste abandono
Tudo parece risonho
O mentir dá-lhes prazer
Até se tornam famosas
Com mentiras piedosas
E a mentir hão-de morrer

É tão cruel a mentira
Que todo o bem nos retira
Para a mentira dizer
Sendo a verdade uma lança
Toda a mentira ela alcança
Para a verdade vencer.

Maria José Branco de Assunção

quinta-feira, agosto 07, 2008

COM ARDOR ...

Com ardor veemente me mentias
quando em ternura constante me entregava,
eram mentiras dos teus lábios que sorriam
para mim bênção divina, só porque acreditava!

Mentias nos beijos que davas com ardor,
no enlevo carinhoso dos teus braços
comédia, farsa, quando falavas d'amor!

Mentiras, só mentiras, tudo porquê?
Se eu nada te perguntava...
Pagando-te com beijos as mentiras...

Com receio? Medo talvez de te perder?!
Só porque minha alma solitária te adorava,
eu fingia ser verdade, sabendo que mentias!

SÃO PERCHEIRO
(Maria da Conceição Bastos Percheiro Santos)

terça-feira, agosto 05, 2008

SONETO

Tua frieza aumenta o meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
E quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.

Humildemente, atrás de ti rastejo,
Humildemente sem te convencer,
Enquanto sinto para mim crescer
Dos teus desdéns o frígido cortejo.

Sei que jamais hei-de possuir-te, sei
Que outro, feliz, ditoso como um rei,
Enlaçará teu virgem corpo em flor.

Meu coração no entanto não se cansa:
Amam metade os que amam com esp'rança,
Amar sem esp'rança é o verdadeiro amor.

Eugenio de Castro e Almeida

domingo, agosto 03, 2008

DESCRENTE

A chuva cai, lúgubre, tristemente,
Nos vidros já bem sujos da vidraça,
E eu deito-me mui cansado, indolente,
Pelo vício d'esta alma já tão lassa!

Já de há muito d'amor eu sou descrente!
A Alma fugiu... Resta-me inerte massa
Que se vai corrompendo lentamente,
Ficando em breve apenas a carcassa...

Oh! Morte! tu p'ra mim és deslumbrante!...
Vem, vem, como se foras uma amante,
A meus braços...__O mundo é uma ironia!...

Esperar-te-hei sempre a rir, a cantar,
Até o último lampejo se apagar,
Sorrindo-te, mesmo da campa fria!...

Alfredo Botelho

sexta-feira, agosto 01, 2008

APOLOGIA DA DESILUSÃO

Todos os dias morre em nós uma ilusão
e, logo após o sepultar quotidiano,
vê-se na nova campa este epitáfio vão:

Aqui jaz mais um rude e triste desengano...

Cada dia, em seu luto, o Sentimento Humano
nos crepúsculos chora a negra expiação
de haver feito aclamar som o sol meridiano
a Quimera envolvendo-a em beleza e emoção.

Por mim, não choro nunca as ilusões goradas,
que só por sua morte, as almas fascinadas
podem sentir a Vida em integral crueza...

Oiço, então, outra musa em que jamais se inspira
quem gosta de embalar incerto da mentira...
Oiço a Desilusão __ a única certeza...

Sanz Vieira