sexta-feira, novembro 25, 2011

SAUDADE

Saudade, é Amar.
Amar é sofrer.
Quem na vida
O Amor não conhece
Nada pode dizer.
Amei, e fui amado,
Sofri e tenho saudade;
De não voltar ao passado.
Essa vida sem significado;
Em que tudo é alegria,
Na época da fantasia,
A vida que passou.
Se eu pudesse voltar
Aos braços de quem me [Amou !!!
Américo Barroso

segunda-feira, novembro 21, 2011

TECEDEIRA

Tecedeira d'olhos pretos,
Não me sais do pensamento,
Pois teceste os meus afectos
Urdindo no meu tormento.


O tear tece os fiados,
O amor tece saudades,
Os zelos tecem cuidados,
Tece a traição falsidades.


A alma tece a esperança
No tear do coração:
E o desejo não se cansa,
Tece e fia com paixão.


Na teia da desventura
Há trama do bem querer;
Por isso tem tanta dura
Que se não pode romper!


Lançadeira vai e vem
Larga o fio no tear;
Meu peito pulsa também;
Mas não deixa o seu penar.


Que teia fina e garrida,
Que fino e rico brocado,
Se ela fora entretecida
Com teu cabelo doirado!


Um lençol quero na morte
Tecido por tua mão;
Quem me mata d'esta sorte
Que amortalhe o coração!


Oliveira Simões

segunda-feira, novembro 14, 2011

SONETO

Quando, escondido em teu jardim florido
Te vi sair das águas murmurantes,
Postas as mãos nas pomas saltitantes,
Solto ao vento o cabelo humedecido:

E, sorrindo-te, o corpo enlouquecido
Reclinaste nas relvas ondeantes,
Dando-me assim aos olhos coruscantes
Uma estátua de mármore polido;

Não tive, como a santa Bíblia conta,
As idéias dos lúbricos juízes
Vendo a nua Susana, que se afronta.

Desejei-me nos bárbaros países
Dos canibais, e tive a idéia tonta
Do selvagem voraz: não te horrorises!...

João Penha

segunda-feira, novembro 07, 2011

SONETO

O grande trigueiral ondeia, basto,
A balouçar a espiga já madura,
E a brisa, pela coma, como um rasto
Deixa-lhe um leve sulco na espessura...

A lua desmaiada no céu vasto,
A deslizar naquela grande altura,
Já mostra pelo azul, o rosto casto
E até parece olhar-nos com ternura...

E o sol a descambar no olivedo,
Onde balança a asa d'um moinho,
Vai escondendo a face no arvoredo...

E parece dizer-nos _ adeusinho! _
E canta então mais alto o passaredo
E rescende mais vivo o rosmaninho...

Elva Serrão

terça-feira, novembro 01, 2011

NOVEMBRO

A folhagem da ramada
De todo rolou no chão.
Já sem vida, estiolada,
Vai entrar na podridão.


Assim toda a criatura
D'esta vida amargurada:
Morre e cai na sepultura,
Onde se reduz a nada.


F. Pinheiro