quarta-feira, maio 30, 2012

OLIVENÇA

POESIA: "JORNAL DE NOTÍCIAS", 30-Junho-2007


TRADIÇÕES EM PERIGO

Como um oásis numa planície ardente
emerge Olivença no nosso caminho.
O Sol de Verão castiga-nos, quente,
sem dar descanso por um bocadinho.

Olhamos felizes o casario branquinho
e a nossa alma um aconchego sente;
do Alentejo está ali um pedacinho,
naquela terra está uma nossa semente.

Os rodapés pintados, na sua beleza,
fortalecem mais ainda a convicção
de estarmos no Alentejo, com certeza.

Aqui e além, uma nova construção
faz nascer em nós alguma tristeza,
perante o esquecimento da tradição...

Estremoz, 25 de Junho de 2007
Carlos Eduardo da Cruz Luna




Atitude!
14/Abr/2007 20:18

Quiseram que escrevesses noutra linguagem
que não a tua, Vicente Vieira Valério;
desse modo, também prestarias vassalagem
a novos tempos, e a um novo império.

Disseste que não; e que a coragem
não significava mudança de critério,
e que, para ele, era como uma mensagem
de que se cairia em soez adultério

Morreste, dizem, em situação de pobreza,
na tua Olivença, que tanto, tanto amaste,
em atitude de inigualável firmeza.

Deste a vida pela língua que falaste
desde que nasceste. Pela língua Portuguesa
que com inexcedível dedicação usaste.

(Homenagem a Vicente Vieira Valério, vereador da Câmara deOlivença, que se negou
a escrever as actas em castelhano,em 1805, e foi por isso "dispensado", morrendo
à míngua de recursos)




quinta-feira, maio 24, 2012

NOSTALXIA


Se o meu país e as cousas doutra edade
foran comigo como dentro as levo,
veríase a magarza e máis o trevo
xurdiren das regañas da cidade.
 
Se o meu país de clara lonxedade
viñera canda min como alto o enlevo,
a fonte amargue en que por veces bebo
recobraría un saibo que se evade.
 
Se o meu país de abertas chás que o vento
coma cabalo toleirán gallopa
viñera canda min a esta cidade,
 
ben puidera gozar un viño lento
que enchería de luz a miña copa
en troques do tristén e da saudade.
 
Darío Xohán Cabana

sábado, maio 19, 2012

A HORA DA PARTIDA

Ai ! a hora cruel da despedida,
E as lágrimas choradas n'esse instante!
Ferem mais do que lamina cortante
Os soluços que ouvimos à partida...

Hora triste, hora amarga e dolorida,
Que se eterniza... e corre galopante;
Momento inolvidável, cruciante,
Que, n'um sopro, nos rouba anos de vida!

Muito custa sair a barra fora,
Deixando o coração, pois muito embora
A gente conte em breve regressar,

Quem poderá prever, quando partimos,
Por quanto tempo nós nos despedimos,
Se por ventura havemos de voltar.
Delfim de Brito Guimarães

segunda-feira, maio 14, 2012

SONETO

As plantas rindo estão, estão vestidas
de verde variado de mil cores;
cantam tarde e manhã os seus amores
as aves, que de amor andam vencidas;

as neves, já nos montes derretidas,
regam nos baixos vales novas flores;
alegram as cantigas dos pastores
as ninfas pelos bosques escondidas.

O tempo, que nas cousas pode tanto,
a graça que por ele a terra perde
lhe torna com mais graça e formosura.

Só para mim nem flor nem erva verde
nem água clara tem nem doce canto,
que tudo falta a quem falta ventura.
Diogo Bernardes
1520 ?_1605

terça-feira, maio 08, 2012

A UMA FONTE

O que dirá a fonte, noite e dia,
correndo sem parar?
É dor ou alegria
o seu falar?!...

Se Margarida vai encher a bilha,
como inda hoje a vi,
_que encanto e maravilha!_
a fonte ri.

Se uma criança, um velho, um animal,
refrescam a garganta,
em notas de cristal
a fonte canta.

Mas, quando a turvam por maldade, é tanta
a mágoa que a devora,
que já não ri nem canta!
_a fonte chora.
Espínola de Mendonça

domingo, maio 06, 2012

A MÃE

Eu canto-vos mulher, porque vos tenho visto
na pálpera vermelha a lágrima d'amor,
que vem d'Eva a Maria _ a doce mãe de Cristo _
formando a estalactite imensa duma dor !

Oh, quantas vezes já n'aldeia miserável
nas tristezas do campo, às portas dos casais,
vos tenho surpreendido em êxtase adorável,
enquanto os filhos nus ao peito conchegais!

A fria noite chega. Os maus, de boca cheia,
rebolam-se na terra: ainda pedem pão!
Com eles repartis a vossa parca ceia;
e vendo-os a dormir podeis sorrir então.

D'inverno quase sempre as noites são mordentes.
Uivam lobos na serra: o vento uiva também:
mas eles vão dormindo os longos sonos quentes,
enquanto a vil insónia oprime a pobre mãe !

Tendes sustos cruéis. Temendo que lhes caia
a roupa que os abafa, aos pobres acudis;
e aninhando-os melhor nas vossas velhas saias
podeis então dormir um tanto mais feliz.

Mulher quanto é suave e longo esse poema
quanto é preciso ó mãe, no trânsito cruel,
que a vossa alma estremeça e o vosso peito gema
a fim de que em vós brilhe o mais alto laurel !

Quem é que nunca viu, na rua, a cada passo,
a pálida mulher que rompe a multidão,
trazendo agasalhado, um filho no regaço,
e aos tombos, muita vez, um outro pela mão ?!

Nos frios do lajedo, às vezes, pede esmola
às portas dos cafés: ninguém a quer ouvir:
e a ela qualquer côdea a farta e a consola
contanto que sem fome os filhos vão dormir !

E enquanto à luz do gás a turba prazenteira
no fumo dos festins revoa em turbilhão,
quantos dramas cruéis nas húmidas trapeiras;
nos campos quantas mães sem roupas e sem pão ?!

E sempre a mesma lenda, a mesma história antiga:
do palácio à cabana o vosso doce olhar,
nas insónias cruéis, na fome ou na fadiga,
dum raio criador um berço a iluminar !

No entanto à doce mãe, se aquele amor sem termo,
da moda traja agoraos novos ouropéis,
e o vosso coração já gasto e um pouco enfermo,
sofrendo se dilui nos ideais cruéis;

nas vagas pulsações dumas recentes ânsias,
se aquela santa flor das grandes comoções,
apenas tem lugar nas vossas elegâncias,
como um enfeite de mimo amado nos salões;

na corrente fatal que ao longe arrasta os povos,
se o vosso grande afecto intenta erguer-se mais,
sonhando a sagração dos heroísmos novos,
resplendente de luz; vistosa de metais:

aos reflexos do gás, ó mãe, abri passagem
por entre a saudação das alas cortesãs,
levando as seduções da vossa doce imagem
aos delírios da noite, às ceias das manhãs !

Surgi do canto obscuro aonde o casto seio
palpita ingénuo e bom na paz da solidão,
e o vosso amor levai à ópera e ao passeio
a fim de que ele arranque um bravo à multidão !

E eu hei-de rir ao ver que um peito onde um tesouro
maior do que nenhum podemos encontrar,
intenta seduzir pela medalha d'ouro
que aos pequenos heróis os reis costumam dar !

Guilherme d'Azevedo
( 30/09/1839 6/08/1882)