sábado, novembro 24, 2012

O ROUXINOL

Meigo cantor da espessura
Chora, suspira, enternece,
Porque essa voz que é tão pura
Fala à alma e nunca esquece.
 
Tens segredos na vozita
Que eu não sei descortinar,
Ninguém, ninguém  os imita,
Ninguém sabe assim cantar.
 
Passa o vento segredando
Os seus queixums d'amor
E diz-te baixinho e brando
_ Adeus, ó triste cantor! _
 
E tu no denso das franças
Em tristes modulações,
Escarneces as esp'ranças
Dos ingénuos corações.
 
Como um orfão desvalido
Que teve prazer jamais
Passas a vida escondido
A desferir tristes ais.
 
Rouxinol, os teus queixumes
Não são mais tristes que os meus
Eu não te tenho ciúmes,
Sou triste, graças a Deus.
 
O meu coração desfeito,
Pelos prantos, pelos ais,
Soluça dentro do peito
Como tu seus madrigais.
 
Por irmã tenho a desgraça
E por amante o luar;
Sorri a brisa que passa
Mas eu só lhe sei chorar.
 
E meus prantos mais sentidos
Feitos de mágoas e dor
São por ti bem conhecidos
Oh desditoso cantor.
 
Ambos tristes, desgraçados,
Ambos gémeos na desdita
Não temos mais que cuidados
N'esta vida tão aflita.
 
Sigamos na romaria,
Da desgraça, ó rouxinol,
Eu chorarei todo o dia,
Tu de noite, ao pôr do sol.
 
Cypriano Nunes Barata

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Realmente una belleza, siempre es un placer leerte!
Te dejo un fuerte abrazo y te deseo un hermoso fin de semana!

7:58 da tarde  
Blogger Elvira Carvalho said...

Gosto deste jeito aparentemente simples de fazer poesia.
Um abraço e bom Domingo

9:05 da manhã  
Blogger Ana said...

Divulgando sempre a poesia pouco divulgada ! Obrigada !
Um abraço grande *

4:14 da tarde  
Blogger manuela barroso said...

Ninguém merece mais, umas quadras tão belas e cheias de encanto senão este nosso cantor.
Gostei imenso.
Abarço

4:42 da tarde  

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