segunda-feira, fevereiro 25, 2013

A MORTE DE CALAR

As viagens que sou prenderam-se em redomas
Ao corpo das palavras. À morte de calar.
Do alfabeto meu ignoro as cristalinas
Formas de aladas letras nestes versos finais.
São fantasmas de sol. Sãp fantasmas de sede
Que chegam alta noite para nenhum Lugar.
 
Decifro nas entranhas das trevas migradoras,
O solstício da vida além da morte clara.
Mas quem me vem cegar, com setas voadoras,
Nega-me agora a paz das secretas paisagens.
 
Meus Irmãos de astronaves, guiadas por um morto,
Que me esperam e estão, que me cantam e falam,
Que na vazia cruz crucificam meu corpo
E abandonam a flor, mesmo a meio da sala,
à janela rasgada, para as cinzentas águas,
Encostam-me, sem olhos, e deixam-me ficar.
 
Não tenho nada mais a escrever sobre as ondas.
E, mesmo que tivesse, ninguém leria o Mar.
 
Natércia Freire

terça-feira, fevereiro 19, 2013

SONETO

Não pode Amor por mais que as falas mude
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acasp a comoção falar concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.

Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer aos olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.

Também eu das palavras me arreceio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.

E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.

António Gedeão

domingo, fevereiro 17, 2013

PEQUENO POEMA

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...


Sebastião da Gama

quarta-feira, fevereiro 13, 2013

QUANDO AS ROSAS FALAM

Num campo desfolhado me entretenho
A controlar as pétalas das rosas.
Mas perco-me a contar... faço um desenho
Onde ponho mais rosas que essas rosas.

São as que me encantaram... de onde venho,
E as que me esperam... sim, talvez formosas.
E as que deixei na estrada?... Já não tenho!
Mas com certeza são ainda rosas!

Todas elas... que estranho ramalhete!
Onde afundo a cabeça a respirar
O perfume que evoca ilusões.

Escolho uma delas... ponho no corpete
E ela me disse vendo-me chorar:
As rosas também dão desilusões!

Maria José Veiga e Moura