segunda-feira, novembro 25, 2013

DOIS POEMAS

Porquê palpar-te         Se te dissesse, como agora
o seio, tão brando       digo, que de amor
e vejo dar-te            me tomo __ hora
o nome, tão branco,      tão constante e, por
     
dar-te a cor             teu zelo, renovada
que nele engenho?        em meu querer __
Basta supor              e te visse furtada
que o tenho,             __ como é mister __
     
e já o perco.            maior defesa
Que o desengano          é redobrado amor.
de sabê-lo perto         E não acho despesa
é quanto amo             nem louvor
      
em teu seio,             em tanto amar.
tão seguro               Só nada poupa
e sem enleio             quem souber guardar
é meu namoro.            teu nome em tua boca.
     
     
                           GAETAN LAMPOO                

segunda-feira, novembro 11, 2013

SONETO A ORFEU

CONVIVEMOS com flores, parras, frutos.
Não falam só a língua da estação.
Do escuro sobe multicor revelação
e tem talvez em si o brilho do ciúme
     
dos mortos que dão força à Terra.
Que sabemos nós do seu quinhão em tudo?
è modo seu já velho dar, do seu tutano
livre, tutano ao barro.
     
Mas pergunta-se: Gostam de fazê-lo?
Este fruto, obra de escravos pesados, rompe
em bola ao alto para nós, seus senhores?
     
Ou são eles os senhores, ali dormentes
junto às raízes, e dignam-se dar do que lhes sobra
este híbrido de força muda e beijos?
      
                         (Série I, nº XIV.)
      
                RAINER MARIA RILKE

terça-feira, novembro 05, 2013

FRACTURA

Despedaça esta fractura,
 espiar por ela os meus amigos,
 fechados vários peitos, várias artérias,
 pela máquina morte removidos.
     
 Escritas daninhas: pouca me sinto já
 para expurgá-las! Em lava aluem,
 riscam a lume páginas estremes,
 e um braço na tormenta salienta-se das vagas,
     
 frutífero implanta-se
 no seio do nosso corpo escasso.
 Membro em viço, irmão braço vem
 por dentro semear-nos!
     
      Luiza Neto Jorge