sexta-feira, julho 25, 2014

O FILHO PRÓDIGO

Aqui estou, Pai. Perdi-me.
Venho
de porcos grunhindo contra o sol.
     
Trago
as marcas da fome.
Como devorar sobejos
junto ao esterco?
Também lá dormi.
     
Trago na alma um pouco de sede.
     
Recebe-me como a um dos teus servos.
Podes recusar-me o cabrito e o anel.
Meu irmão não precisa queixar-se:
é dele também teu amor.
     
Deixa-me
o amor de minha mãe.
     
É por ela que vim.
     
        Armindo Trevisan 

 

segunda-feira, julho 14, 2014

FERNANDO GUIMARÃES

Que leve superfície ali tocavam
os pés, quando encontraram o suporte
sem peso deste vaso, onde passava
o rumor quase extinto de outra fonte
    
ao levantar o manto que foi água,
e assim ficará preso àquele círculo
de um gesto que se torna o início apenas
da noite em que se eleve agora a curva
    
dos joelhos vergados, o silêncio
que envolvera de novo a superfície
atravessada pelo mesmo impulso
     
de um amor mais secreto, desta súbita
vontade, quando fica em nós a extrema
nudez que pelas águas se perdia.
    
                                Fernando Guimarães

terça-feira, julho 08, 2014

PANÓPLIA

Robustas árvores magnólias frescas
em Portugal no centro crescem sempre
apesar dos desterros e das sombras
que sobre este país reflorescem
    
À maneira nobre e simples de Cesário
Verde de seu nome e sua juventude
digo que as papoilas ardem fervem
quer seja por costume ou por virtude
    
E nos altos pinhais da nossa terra
os gaios as calhandras e os melros
hão-de fazer sempre a mesma festa
    
uma festa contra o crime e contra a guerra
com as uvas o vinho e alguns velhos
sentados em bancos à sombra da giesta.
    
      Jose Carlos González