segunda-feira, setembro 01, 2014

APOLOGIA DO LOBO

Nas montanhas soturnas e bravias,
Cobertas de urzes e giestas amarelas,
Vê-se às vezes, nas longas noites frias,
Um lobo a uivar, voltado p'ra as estrelas.
     Os seus olhos nervosos, refulgentes,
     A cintilarem como dois luzeiros,
     Têm o fulgor da fronte dos videntes,
     A ostentaçãp heróica dos guerreiros:
 Pois pode acaso alguém ao lobo negar
As aptidões de um pensador profundo ?
Quem sabe! Enquanto ao longe anda a ulular,
Estuda as obras de Proudhon a fundo.
     A Natureza educa. O Sol radiante,
     A árvore verde, graça e luz da aldeia,
     O azul celeste, a nuvem flutuante,
     Tudo contém em si uma epopeia.
O lobo talvez seja um grande artista,
Original espírito do bem,
Filósofo, talvez positivista
E que jamais se revelasse a alguém.
     Quando através dos densos arvoredos
     Eu o encontro, nas noites consteladas,
     Ou entre as altas cristas dos rochedos
     Erguidas para os ares como espadas.
Digo sempre comigo então: _Oh sábios,
Não injurieis o lobo, não fujais !
Que vai cair em breve dos seus lábios
O melhor dos sistemas sociais.
    
          José Leite de Vasconcelos
                      (1858-1941)

2 Comments:

Blogger MEU DOCE AMOR said...

Olá:

Adorei esta escolha.Costumo ver os lobos em sonhos.São maravilhosos,rápidos,com olhar penetrante e sábios.

Beijinho doce:)

11:35 da manhã  
Blogger Graça Pires said...

Obrigada por nos trazer José Leite de Vasconcelos. O poema é muito belo. E gostei da quase elegia aos lobos, animais muito misteriosos...
Um beijo.

11:47 da manhã  

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