segunda-feira, abril 20, 2015

MANOS

     Manos, interjecciones en el dia,
punzón de la palabra, roedoras
del cadáver del viento, exploradoras
de su mansión de alada geometría.
    
    Manos palpantes,, que en la sombra fría,
a seno, mármol, flor doráis las horas,
evocando a otra luz, desveladoras,
la atónita belleza, que dormía.
    
     Manos que a pleno sol vais nocherniegas,
garzas entre la bruma del instinto,
frenesi de expresar lo zabareño.
    
    Manos, tristes de tacto; lindes ciegas
de nuestro melancólico recinto.
!Oh torpes manos, límites del sueño!
    
                Dámaso Alonso
                   1898 - 1990

terça-feira, abril 14, 2015

SONETO

Feliz esse mortal que se contenta
Com a herdade dos seus antepassados,
que, livre do tumulto e de cuidados,
Só do pão que semeia se alimenta.

De entre os filhos amados afuguenta
A discórdia cruel; vê dos seus gados,
Sempre gordos, alegres, bem tratados,
Numeroso rebanho que apascenta.

O trono mais dotoso é comparável
Ao brando estado deste, que não sente
De um ceptro de ouro o peso formidável?

O que vive na corte mais contente
Provou nunca um prazer tão agradável
Como o deste pastor pobre, inocente?

Marquesa da Alorna
(1750-1839)

sábado, abril 11, 2015

REGRESSO

Minha aldeia, voltei! Avé Marias...
Teu crepúsculo de oiro até parece
que me canta , e me embala, e me adormece,
a florir a amargura dos meus dias...

Como a urze das tuas serranias,
poeta aqui nasci, sem que o soubesse...
E aqui __ visão de estrelas e de prece __
vi meu primeiro amor, quando me vias!

Minha aldeia, voltei! __ Anoiteceu...
Sobre o meu coração, como num ninho,
estendes a asa d'oiro do teu céu...

E ele dorme e sorri __ o abandonado! __
como dorme e sorri um passarinho,
sob a asa da mãe agasalhado...


Bernardo de Passos

sexta-feira, abril 03, 2015

EDUARDO WHITE

          No pensamento quardamos o íntimo ofício de observar. O coração bombeia, os pulmões respiram, trabalha o sangue para criar toda essa grande alquimia. As cores nas pupilas, as formas sob os dedos, os leves, os acidulados, os delicados perfumes que se inspira e também a música que de tão quieta se pode ouvi-la e o amor na língua, e o amor, tremente e fulminado  que fala e cria, e no fundo, ainda, toda a magnânima magia que é pensar.
    
          Olho uma pedra. E penso.
          Na dura estrutura de pedra
          uma funda bradeja de ironia. Espera.
          Anseia paciente aquele corpo deitado na sua bacia,
          concebe o arremesso,
          o movimento que mesmo parada
          a pedra anuncia.
         
          Toca-a. Podes vê-la e pô-la na mão.
          Não a armes para que fira.
         Uma pedra não merece essa bélica intenção.
          Levanta-a como um dardo
          para que veja a distância que a extasia,
          o seu porto terrestre.
          Depois atira-a,
          dá-lhe a virtude de crescer para outros lugares,
          a sua paixão celeste, a sua vocação para cantar,
          deixa a pedra correr na sua alegria,
          na sua comprovada dureza.
          
          Repara.
          A pedra vai alta,
          gargalha pelos espaços,
          respira, turbilha,
          e sentirás que antes mesmo de tocar o chão
          a pedra agradece-te
          sendo tu que voaste.
          
                                      Eduardo White