domingo, setembro 13, 2015

CABEDELO

Esbranquiçado réptil,
adiantava a língua rugosa,
a secar a saliva das ondas.
     
Dos embarcadiços de Falmouth que
morriam a bordo,
alimentava-se-lhe a sede de progredir.
     
E formava a garganta dos naufrágios,
e embebia-se da garrafa de gin,
no bolso das calças dos herejes que,
em seus lençóis,
alcançavam o repouso dos guinchos das gaivotas.
     
                         Mário Cláudio

terça-feira, setembro 01, 2015

FEIA

Achas-te feia ! O porquê
nem talvez saibas dizer...
não julga assim quem te vê
embora sem to dizer.
Teus olhos são como tantos,
fontes de amor e desvelos;
há neles iguais encantos
como nos olhos mais belos.
    
Na tua boca, o sorriso,
como um divino condão,
temtodo o jeito preciso
de prender um coração.
Há nos teu lábios, desejos,
como os possa ter qualquer,
origens de muitos beijos
como em lábios de mulher.
    
Achas-te feia !  O motivo
anda fora da razão...
e nesse desgosto vivo
laceras teu coração.
Que de mágoa definida
se possa sofrer ? Vá lá...
As penas são desta vida.
Mas penas assim não há...
    
São os gostos variados
a definir a beleza.
Ai de ti !  Que os teus cuidados
são talvez de uma incerteza...
Não há bela sem senão
por mais linda que se creia,
nem feia sem atracção
porque é difícil ser feia !
    
                Eurico Neves