domingo, novembro 29, 2015

À ESPERA

Casinha branca, ao centro da paisagem,
Que em montes azulados se remata;
O Vouga ao fundo, em múrmure cascata,
Passa beijando a trémula folhagem...
     
Foi nessa reniotíssma paragem,
Que ouvi do berço a matinal volata...
_Nesga do céu, que a mente me arrebata!
_Terra santa de fulgida miragem!...
     
Lá me esperas, ó Mãe! doce velhina,
Que por mim rezas, suplice, à tardinha,
Lançando à estrada o olhar angustiado...
     
Santa! Eu só peço a última ventura,
De repousar, em rasa sepultura,
Junto da tua, _à beira do valado!
     
                            Albino Costa  (Guimarães?)

 
 

terça-feira, novembro 17, 2015

ABDICAÇÃO

A paz que tenho, dela abdico:
não satisfaz a minha ânsia.
__Só a distância 
me faz rico.
     
Que importam velas, catedrais
para o meu sonho de partir?
__Sou longe e mais
só com sorrir.
     
Lírios, amores, cavalos-de-pasta,
também os teve a minha infância.
__Só a distância
hoje me basta.
     
                    Daniel Filipe

domingo, novembro 01, 2015

NOVEMBRO

Fizemos o magusto na charneca
Onde o mato começa; tarde fria,
Castanhas, belo vinho na caneca,
Lume experto, excelente companhia,
Bom apetite e sede, como a breca.
          A primeira saúde quem a fez
          Foi o prior, com frases em latim;
          Houve depois mais duas ou mais três,
          Toda a roda correram, e por fim
          Chegou, naturalmente, a minha vez.
Na caneca peguei; mas como penso
A toda a hora em ti, que me acompanhas,
Fui obrigado a recorrer ao lenço:
Não sei se me engasgaram as castanhas
Ou se a lembrança d'este amor imenso.
          
                  Acácio de Paiva