sábado, março 19, 2016

SAUDADES ...

Saudades são gritos d'alma
Perdidos nas serranias
 Em busca d'almas errantes
Durante noites e dias.
     
Saudades são amarguras
No peito bem reprimidas,
São mágoas sempre lembradas.
Tristezas nunca esquecidas.
     
Saudades ternos lamentos,
D'um peito amargurado,
Sente-as na vida quem tem
Ausente o seu bem amado.
     
Saudades, espinhos agudos
Cravados no coração
De quem se deixou domar
De forte amor por paixão.
     
São como fundos suspiros
Que andam por vales, soando,
São como doces tormentos
De quem só vive sonhando !
      
        F. Baptista da Graça

quarta-feira, março 09, 2016

SAUDADE

Entristeces se falo na Saudade?!
_Se ela me conquistou e não abdica
do louco coração que a purifica
na mais pura expressão da realidade!...

Usada e abusada em falsidade,
espoliada de quanto significa,
refugiou-se em mim... e pontifica
orgulhosa de tal sinceridade.

É só justiça, crê, falar-te nela,
porquanto essa palavra tão singela
já vê ressuscitado o seu valor...

Na ventura de tal ressurreição,
ela abençoa a força da paixão
na grandeza infinita deste amor.

      
Franklin Marques

terça-feira, março 08, 2016

8 DE MARÇO 2016

“A partir de 1922, o Dia Internacional da Mulher é celebrado oficialmente no dia 8 de Março.

Essa história perdeu-se no registo histórico oficial tanto do movimento socialista, como dos historiadores daquele período. Faz parte do passado histórico e político das mulheres e do movimento feminista de origem socialista do começo do século [XX].

Algumas feministas europeias na década de 70, por não encontrarem referência concreta às operárias têxteis mortas num incêndio em 1857, em Nova York, chegaram a considerá-lo um facto mítico. Mas essa hipótese foi descartada diante de tantos factos e eventos vinculando as origens do Dia Internacional da Mulher às mulheres americanas de esquerda.

Quanto aos elos perdidos dos factos em torno do dia 8 de Março levantam-se várias hipóteses em busca de mais aprofundamento.

É certo que nos EUA, em Nova York, as operárias têxteis já vinham denunciando as condições de vida e trabalho e já faziam greves . Esse momento de organização das trabalhadoras faz parte de todo um processo histórico de transformações sociais que colocaram as mulheres em condições para lutar por direitos, igualdade e autonomia participando no contexto social e político que motivou a criação de um dia de comemoração que simbolizasse as suas lutas, conquistas e necessidade de organização. É preciso, pois, entrelaçar os fios da história deste período.

Por conseguinte, há um relato que precisa de ser verificado nas suas fontes documentais, sintetizado por Gládis Gassen (num texto para as trabalhadoras rurais da FETAG), que nos indica que em Março de 1911, dezoito dias após o Dia da Mulher, e não em 1857, "numa mal ventilada fábrica de têxteis que ocupava os 3 últimos andares de um edifício de 10, na Triangle Schirwaist Company, em New York, estalou um incêndio que envolveu 500 mulheres - jovens, judias e imigrantes italianas - que trabalhavam em condições precárias, com o assoalho coberto de materiais e resíduos inflamáveis, o lixo amontoado por todas a parte, sem saídas em caso de incêndio, nem mangueiras para água... Para impedir a interrupção do trabalho, a empresa trancava à chave a porta de acesso à saída.

Quando os bombeiros finalmente conseguiram chegar aos andares onde estavam as mulheres, 147 já tinham morrido, carbonizadas ou estateladas na calçada da rua, para onde se atiraram em desespero. Após esta tragédia criou-se em Nova Iorque a Comissão Investigadora de Fábricas que já tinha sido solicitada há 50 anos! Foi assim que se iniciou a história da legislação de protecção da vida e da saúde. A líder sindical Rosa Schiederman organizou a presença de 120 mil trabalhadoras no funeral daquelas operárias para expressarem o seu lamento e declararem solidariedade para com todas as mulheres trabalhadoras".

Assim, embora seja necessário continuar a procurar memórias perdidas, é certo que todo um ciclo de lutas, numa era de grandes transformações sociais até às primeiras décadas do século XX, tornaram o Dia Internacional da Mulher um símbolo da participação activa das mulheres para transformarem a sua condição e a transformarem a sociedade.

Celebramos então, anualmente, tal como as nossas antecessoras o fizeram, as nossas iniciativas e conquistas, fazendo o balanço das nossas lutas e actualizando a nossa agenda de lutas pela igualdade entre homens e mulheres e por um mundo onde todos e todas possam viver com plenamente e com dignidade.

(Extractos de um artigo de SOF - Sempreviva Organização Feminista )





Passaram cem anos desde que Clara Zetkin propôs o dia 8 de Março como Dia Internacional da Mulher,



aquando da II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas.


Clara Zetkin

(1857-1933)

terça-feira, março 01, 2016

AO MEU CÃO

Deixei-te só, à hora de morrer.
Não percebi o desabrigado apelo dos teus olhos
Humanismos, suaves, sábios, cheios de aceitação
De tudo... e apesar disso, sem o pedir, tentando
Insinuar que eu ficasse perto,
Que, se me fosse, a mesma era a tua gratidão.
     
     
Não percebi a evidência de que ias morrer
E gostavas da minha companhia por uma noite,
Que te seria tão doce a minha simples presença
Só umas horas, poucas.
Não percebi, por minha grosseira incompreensão,
Não percebi, por tua mansidão e humildade,
Que já tinhas perdoado tudo à vida
E começavas a debater-te na maior angústia, a debater-te com a morte.
E deixei-te só, à beira da agonia, tão aflito, tão só e sossegado.
      
                                    Cristovam Pavia